v. 29 n. 316 (2024)
Futebol globalizado: espelho de um mundo desigual
Vinte e quatro horas por dia, cada vez mais plataformas que transmitem jogos todos os dias, a qualquer hora, a partir de qualquer liga do mundo, a globalização transformou o mercado do futebol, aumentando as receitas provenientes dos direitos televisivos e dos patrocínios, o que por sua vez impulsionou os salários dos jogadores de futebol. Desta forma, os prémios de uma elite de jogadores dispararam para valores exorbitantes.
É um dos muitos fenómenos destes tempos que determina que uma grande maioria da população assista passivamente aos ecrãs e veja diminuir dia a dia as possibilidades de consumo com os seus salários, mas também a constante precariedade do mercado de trabalho, com iniciativas que apenas beneficiam uma minoria. Entretanto, faltam políticas públicas que promovam uma distribuição mais equitativa da riqueza, invistam na educação e na formação profissional e promovam o crescimento económico inclusivo.
O jornalismo especializado passa horas inteiras a debater minudências inconsequentes, a impor a agenda do futebol e a configurar uma realidade determinada por interesses comerciais. Desta forma, esconde-se o necessário para construir uma visão crítica da realidade, tomar decisões mais informadas para evitar ser manipulado por informação fragmentada e proporcionar iniciativas que apelam à resolução das necessidades coletivas.
Tulio Guterman, Diretor – setembro de 2024